segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Detetive novelístico

Caros colegas, antes de qualquer coisa, cabe explicar as origens desta minha nova coluna no Papo Ereto. Durante todos esses anos vivenciando esta indústria fundamental, dei minha contribuição para a popularização da telenovela no território nacional.

Graças a textos sobre o impacto social das novelas de Manoel Carlos ou mesmo minha cobertura exclusiva de Malhação, a teledramaturgia nacional vive momentos de ouro.

Na qualidade de profundo conhecedor das coisas de novela, fui convocado pelo presidente do Grupo Interbarney, um galego bonito, de peito espadaúdo e voz aveludada (myself) para falar com a juventude sobre esta mania nacional.

Neste espaço, discutiremos os futuros possíveis e prováveis da realidade folhetinesca atual. Cabe lembrar que trabalharemos numa frequencia semanal, ou pelo menos tão semanal quanto minha outra coluna fixa costuma ser.

Vamos curtir essa vibe corretíssima?

SOBRE CAMA DE GATO

[caption id="attachment_1345" align="aligncenter" width="300"]Alcino Positivo Alcino Positivo[/caption]

A Rede Globo já exibe vinhetas emocionantes de sua próxima atração das seis. Em uma delas, conhecemos Alcino, personagem de Carmo Dalla Vecchia, que surge com um interessante twist: ele descobriu que possui uma doença terminal.

Trinta segundos, e nada mais, são suficientes para vislumbrarmos as cenas dos próximos capítulos. Mesmo com sua empregada doméstica Isabela Garcia implorando para que nosso estimado Alcino consulte uma segunda opinião, nosso trágico protagonista segue irredutível: para quê ouvir novamente uma sentença de morte?

Mesmo com essa parca quantidade de informações, já temos todo um cenário construído para os próximos meses.

Carmo Dalla Vecchia ainda não é um nome importante o suficiente para fazer apenas uma participação especial e ainda assim ganhar um spot promocional. Alcino sobreviverá, e comerá a empregada doméstica Isabela Garcia. Pois, por amor, ele há de consultar uma segunda opinião, e a redenção virá ao lado de muita paixão.

Desde já, torço pela felicidade do casal, muito embora não vá assistir à novela, até por causa do horário. Mas isso é o bonito desse paradoxo conhecido como chamadas de novelas: são tão bem feitos que tornam dispensável o ato de assistir aos capítulos completos.

FUN FACT

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Carmo Dalla Vecchia é de Carazinho - RS. Gabriel Von Doscht (@moskito) também.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO:

Manoel Carlos está banalizando a paraplegicação do cidadão brasileiro. E eu tenho como provar.

abs

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As polêmicas da semana

- TÁ TODO MUNDO NESSA

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Lily Allen declarou que acha errado baixar música dos outros de graça, pois isso atrasa o lado dela, e ainda alfinetou a galera da maconha que apoia a situação.

Foi o que bastou para que fossem deflagrados comentários desabonadores sobre o som da moça. "Discordo de ti, logo te odeio". A educação sentimental dessa galera parece vir toda do Faustão, com seu mantra de "tanto pessoal quanto no profissional".

O maior problema da vida moderna não é nem levar o personagem pra cama - é querer levar personagem dos outros pra cama.

- LEGIÃO URBANA REVIVAL

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Sabe aquele papo de "fulano calado é um poeta"? É sintomático que Renato Russo seja reverenciado como o maior letrista de uma geração depois de morto. Surfando na onda da popularidade póstuma, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá preparam uma gloriosa turnê de retorno da Legião Urbana, mas com outro nome e com um vocalista diferente em cada cidade. Tipo marinheiro.

Com a explosão demográfica de bandas covers da Legião, é justo que os Wailers do Cerrado reclamem o que lhes é de direito. Os shows prometem ser o equivalente genuinamente brasileiro a convenções Trekker, indo corajosamente aonde nenhum poço fundo foi antes.

- ZÉ MAYER FACTS

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A Globo deveria ter normatizado também as suas celebridades analógicas. As não-declarações de Zé Mayer sobre as borbulhas de amor provocadas por ele no Twitter foram um tanto quanto confusas.

Parece que a primeira reação dessa tribo muito colada é, ao ver seu nome associado com qualquer uma dessas "coisas de internet", achar logo que estão sendo logrados. Imagino a situação do Helenator, nervoso por ter sido citado no Twitter: "NÃO ERA EU". Era sim, e nós temos 40 anos de vídeos para provar.

- É MUITO BONE

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Flavio Briatore, a Susan Boyle do automobilismo, encantou o mundo com sua visão de negócios e estratégia de guerrilha. A emboscada virou enrascada, e o patinho feio não virou cisne - embora digam que ele anda recebendo alguns gansos. Fica nosso grande abraço a todos os envolvidos.

- SITUAÇÃO URBANA DIVERTIDA

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Nos Estados Unidos, quando o povo nota algo que não consegue identificar muito bem, pergunta-se "Será um pássaro? Um avião?", ao passo que a resposta costuma ser "Não". No Rio de Janeiro, o amigo leitor ouve escapamento de moto velha e pergunta-se "Será um arrastão? Uma turba enfurecida?", ao passo que a resposta é, invariavelmente, "Sai da frente".

O imbróglio ocorrido nesta quinta-feira levanta uma questão interessante para o cidadão contribuinte: quem arrasta o arrastão?

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Chico Barney é filósofo

domingo, 13 de setembro de 2009

PetroBeatles

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Semana passada foi lançado aquilo que pode ser considerada a camada pré-sal dos Beatles. Todos os discos remasterizados, inclusive na emocionante versão mono, revelando sabores e texturas nunca antes experimentadas.

Causa puro fascínio o fato de que bens tão não-renováveis quanto canções dos Beatles possam ser continuamente exploradas economicamente, com sucesso, no decorrer das décadas.

Além dos gloriosos remasters, a banda também está sendo apresentada a uma nova geração na forma de videogame. Confesso não ser um entusiasta do modelo atual, mas aproveito para sugerir uma versão Beatles versus Marvel ou mesmo um Beatles versus Capcom. George Harrison mostrando pro Zangief que lá vem o sol certamente seria um momento definitivo do entretenimento domiciliar.

De qualquer forma, assim como o petróleo, os Beatles são fósseis cada vez mais presentes na vida do cidadão comum, e devem seguir pautando a grande mídia em 2010 e além.

ABS

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ben Harper

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De uns anos pra cá, virou clichê colocar Ben Harper no mesmo balaio que Jack Johnson, Donavon Frankenreiter e afins. Mas a verdade é que o Ben Harper, além de pai de todos, possui influências muito mais ricas e um trabalho infinitamente mais variado.

Muito além da surf music de boteco do disco "Diamonds on the inside", aproveitamos o episódio de hoje para mostrar facetas variadas de nosso protagonista. Garantimos uma divertida hora repleta de canções agradáveis o suficiente para que se EXTINGUA qualquer ideia errada sobre o valioso cantor e compositor.

[soundcloud width="100%" height="81" params="" url="http://soundcloud.com/chicobarney/e-mixtape-o-mane-ben-harper"]

Fight for your mind
Steal my kisses
The will to live
Suzie Blue
Another lonely day
Power of the Gospel
Like a king / I'll Rise
Glory & Consequence
Oppression
Jah work
Heart of matter
Forgiven

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Venda casada

Pete Yorn é um falsário, e eu tenho como provar.

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Caça e caçador

O cretino resolveu se aproveitar do charme, talento e carisma de Scarlett Johansson para lançar o disco mais picareta do ano. É como se Woody Allen a tivesse convidado para ser a "camareira #2" de algum de seus filmes.

A ideia inicial da senhora Ryan Reynolds era, evidentemente, estabelecer uma relação de comensalismo com Pete Yorn. Ela entraria com seu renome internacional, sua formosura galáctica e toda a mídia aos seus pés. Yorn emprestaria todo seu know-how para transformar Scarlett em um nome respeitado no metier.

Pois o músico se mostrou um grande predador. É ele o protagonista do disco, e tão somente ele.

The Break Up Album é composto por nove magérrimas canções, o que pouco faz justiça à musa, que pouco divide os vocais com Pete Yorn. Sem podermos reagir, observamos  o salafrário e obscuro não-ídolo indie montar seu palco nas costas da nobre Scarlett.

A internet inteira foi enganada com o single "Relator", em que ouvíamos a atriz, cantora, diretora e qualquer outra coisa que ela possa desejar ser destilar todo o seu grande talento vocal. Infelizmente, o mesmo não se repete no restante do álbum. A única música em que deu oportunidade para a deliciante artista brilhar muito nas quebradas foi a modorrenta "I Am The Cosmos", exatamente a música mais fraca de todo o disco.

O que Johansson sofreu foi um Boa Noite, Cinderela conceitual.

Após as críticas frias e invejosas do excelente "Anywhere I Lay My Head", em que Scarlett entoava clássicos de Tom Waits de uma maneira boa demais para o público e a crítica entenderem, nossa heroína viu que precisava de mais créditos nas ruas - como se alguém pudesse lhe ceder mais crédito do que o Tom Waits.

Inocente, a moçoila botou fé que Pete Yorn seria algum baluarte respeitado na ceninha hype. O ápice da carreira pregressa deste aproveitador barato foi figurar na trilha sonora do filme "Eu, eu mesmo e Irene", fita menor-que-a-vida estrelada por Jim Carrey - na verdade, uma versão irônica de "Eu, minha mulher e minhas cópias", de um Michael Keaton pós-Bruce Wayne.

Pete Yorn, antes um destemido ninguém, agora é o cara que gravou com Scarlett Johansson. Scarlett Johansson continua sendo uma espécie de Maurício Mattar de Hollywood.

E que não entendam errado, The Break Up Album é muito bom. Mas, no final das contas, é como ter que assistir à novela do SBT todo dia para poder anotar a senha para participar do Show do Milhão.

É inexplicável alguém ter a oportunidade de curtir o momento ao lado de Scarlett Johansson e preferir resolver a situação consigo mesmo.

Cotação: uma Vicky, de uma Vicky Cristina Barcelona possível